A imprensa suíça acordou eufórica nesta segunda-feira (18). Os jornais falam como se o sistema antiatômico do país tivesse sido usado, tamanha a surpresa pelo empate no jogo entre
‘Davi e Golias’ disputado ontem em
Rostov (1-1). Não a Suíça não foi atomizada, muito pelo contrário. Alguns escrevem que a teatralidade de Neymar é que incomodou. O
NZZ, sisudo e prestigioso jornal de Zurique, não poupou elogios à
"Nati", como a seleção suíça é carinhosamente chamada.
"...Os suíços desejavam um jogo perfeito, uma noite mágica em Rostow. E no final, foi realmente uma noite memorável, embora nada que permaneça para a eternidade. Teria seria necessário mais para ter uma vitória dos sonhos. Ainda mais coragem, ainda mais classe, melhor primeiro semestre, talvez..." A atenção estava voltada principalmente para um jogador suíço.
"...No final, foi preciso ter sorte para esse 1 a 1 contra o Brasil e, acima de tudo, a vontade quase desumana de sacrifício de um jogador como o Valon Behrami, um homem imune às dores e que, apesar de doente, jogou como se lutasse pela vida..." E fazendo um balanço do resultado, o jornal de Zurique ressalta que a seleção suíça não começa uma Copa com vontade de perder.
"...Pela quinta vez consecutiva a seleção suíça não perdeu um jogo inicial da Copa do Mundo. Ela está acostumada a jogar campeonatos mundiais contra grandes adversários. Em 2006 foi o empate contra a França de Zidane; em 2010, uma vitória de um a zero contra a Espanha de Iniesta. Durante muitos anos a vitória contra os espanhóis na África do Sul foi considera a mais prestigiada de um time suíço. Mas, ao mesmo tempo, foi uma das vitórias mais feias de todos os tempos, porque ela foi por acaso e não conquistada no jogo..." A principal explicação está no trabalho feito pelo treinador suíço nos últimos anos.
"...Petkovic treinou a equipe nos últimos quatro anos para se tornar mais independente, afastando-os de uma mentalidade de "ostra". Muitos treinadores teriam tentado se esconder do Brasil para conter o estrago. Foi assim que os jogadores suíços se comportaram por muitos anos. Eles esperavam pelos erros dos outros e não confiavam em si mesmos. Todavia, a primeira partida da Copa do Mundo na Rússia mostrou que a seleção suíça não apenas joga um bom futebol quando se trata de disputar uma partida contra a Letônia ou as Ilhas Faroe. Seu estilo de jogo mostra isso, mesmo contra o Brasil. Essa é a mensagem de Rostov. Nunca viu uma equipa suíça com Petkovic frente a um adversário de classe mundial melhor do que esta noite na Rússia, talvez no máximo em 2016 contra Portugal..." Azarões incomodam os favoritos O jornal "
20 Minutos" publica manchetes com letras garrafais para comemorar o empate como se fosse uma vitória.
"...Que começo para a Copa do Mundo! A Suíça decepciona a grande seleção brasileira. Com o empate, a Suíça permanece invicta pela quinta vez consecutiva em uma partida inicial na Copa do Mundo desde 1994. E assim ela se junta ao grupo de azarões que agora estão incomodando as grandes nações do futebol na Rússia..." Para o jornal gratuito, a partida foi um duelo entre dois jogadores.
"...Foi um sucesso do coração de luta e coragem. Exatamente como o treinador Vladimir Petkovic havia exigido de seus jogadores antes do início da Copa do Mundo. Ninguém incorpora essa paixão melhor do que Valon Behrami, o coração e os pulmões dessa seleção. Durante 71 minutos, ele venceu tantos duelos contra Neymar que o superstar parecia ter perdido o apetite pelo jogo..." Teatralidade de Neymar O
Tagesanzeiger, jornal de Zurique, é mais comedido nos elogios, mas considera que a ‘Nati’ teve um bom desempenho
. "...Foi um jogo bastante apertado. Durante 85 minutos a Suíça jogou bem e teve a sorte de ter sobrevivido até o final da partida. Mesmo que Behrami tenha perdido os últimos 20 minutos. Behrami faz Neymar desesperar. Behrami, que provavelmente receberá uma oferta de toda a França..." Porém o comentarista do jornal critica as quedas constantes de Neymar
. "...Os comentários devem ser vistos como um elogio para ele. Behrami deu trabalho aos brasileiros e especialmente ao Neymar. Com sua dureza, vontade e poder de luta. Behrami estava em sua própria metade do campo. Ele era o trabalhador pesado na sala de máquinas da seleção suíça. Dirigiu as linhas de defesa. Ficou no caminho do adversário e repetidamente procurava o duelo contra Neymar. A única coisa que incomodava os suíços era a estupenda teatralidade de Neymar. Mas era só aparecer o Behrami que o Neymar caia..." "Subir o Pão de Açúcar" Já o
Blick considera que a
Nati provou maturidade e qualidade no jogo. Não sem elogiar também a seleção.
"...Quem viu Valon Behrami lutando contra o Brasil, quase chorou como torcedor da seleção suíça. Impressionante, honesta, incrivelmente forte. Mesmo ferido, ele levou Neymar ao desespero. Nós vamos subir o Pão de Açúcar! Não apenas Behrami, mas todos os jogadores da 'Nati' e também o treinador Vladimir Petkovic, cujas táticas para enfrentar a equipe do Neymar deram certo..." O jornal mais vendido na Suíça qualifica mesmo de 'histórico' o empate.
"...O que a nossa seleção fez contra o Brasil nos deixa orgulhosos. Apesar do placar estar marcando inicialmente uma derrota de 0 a 1, os suíços permaneceram calmos. Ela mostrou amadurecimento ao manter o equilíbrio, mesmo estando disputando uma partida contra uma equipe de classe como a do Brasil. Foi um dos melhores desempenhos dos suíços em uma Copa do Mundo. Mesmo se o fator 'sorte' ter tido também o seu papel e sem a ajuda do árbitro de vídeo. Foi um jogo conquistado..." Decepção com a "Seleção" Na parte de língua francesa do país, os elogios à Nati demonstram também uma ponta de decepção pela seleção canarinho.
"A Suíça não é mais café com leite", diz o jornal
Arcinfo, de Neuchâtel.
"Para sua primeira partida da Copa do Mundo, a equipe suíça conseguiu um grande feito, forçando o Brasil a engolir um empate", comemora. O jornal
La Liberté, do cantão de Friburgo, fala de uma verdadeira façanha e de um realismo frio na abertura de seu caderno reservado aos esportes. O diário aponta que o sexto lugar da Suíça no ranking da FIFA não é uma coincidência.
"Mesmo não dando ainda o melhor de si, ela consegue encarar os maiores", escreve o jornal. No cantão do Valais, o
Le Nouvelliste acredita que a Suíça conseguiu
"entrar pela grande porta" na Copa do Mundo.
"Suíça mostra garra", título do
Le Quotidien Jurassien.
"Adoramos sua bravura, é claro, mas também sua segurança técnica e a calma dela depois do gol brasileiro", escreve o jornal do cantão do Jura em editorial.
"Uma proeza contra o favorito", diz o
Le Matin, que dedica cinco páginas ao jogo.
"Com este empate, a Suíça está pronta agora para mudar de status. Este ponto é uma promessa e coloca uma pressão positiva sobre esta equipe", escreve o tabloide da Suíça francófona, que também enche de elogios o jogador
Valon Behrami, “que se mostrou fenomenal na sua 80ª seleção". "A Suíça entra na dança se agarrando ao Brasil", diz o título do
24 Heures.
"A Suíça se comportou como uma verdadeira equipe, seguiu as instruções para se arriscar no jogo sem abandonar sua defesa", observa ainda o jornal do cantão de Vaud. Por swissinfo.ch