Elas cursam Letras na UFT em Araguaína e apresentaram a poesia como atividade da disciplina de educação ambiental.
As acadêmicas Ana Karolliny Araújo Freitas e Elisama Castro de Oliveira expressaram revolta com as constantes queimadas registradas nessa época do ano no Tocantins e em outras partes do Brasil através de uma poesia de cordel.
As jovem cursam Letras na Universidade Federal do Tocantins (UFT), em Araguaína, e apresentaram a poesia como atividade da disciplina de educação ambiental, que é ministrada pela professora Danielle Mastelari.
Na poesia, um sabiá relata sua luta e de outros animais para sobreviverem ao fogo. A narrativa é carregada de sentimentos e leva o leitor a refletir sobre o impacto que as queimadas causam na vida dos animais e ao meio ambiente.
POESIA COMPLETA
Palavras de um sabiá
Um certo dia escutei
No falar de um sabiá
As imagens que ele vira
Quando estava a voar
Fiquei emocionada
Ao ouvir a sua história
Ele era tão preciso
Tinha vida em suas memórias
Era mês de agosto
Quando tudo aconteceu
O pé de cega-machado
Pela primeira vez floresceu
Um lindo pé de ipê
Estava tão amarelo
Só tinha algumas folhas
O que o tornava ainda mais belo
A flora do cerrado
Estava muito colorida
Flor de todas as cores
Davam beleza a vista
Um tom alaranjado
Tomou conta da floresta
Movimentou a bicharada
Só que não estavam em festa
Se moviam pra todo lado
Estavam todos correndo
Era grande o desespero
Por vê tudo em chamas ardendo
A dor não era só física
Porque viam seu lar queimando
Viam toda sua história
E fauna e flora se acabando
O pé de cega-machado
O machado não cegou
Foram tantas as chamas
Que sua força vital consumou
Naquela tarde as chamas
Tudo quis devorar
O pé de ipê amarelo
Nuca mais florescerá
O colorido das flores
Pela as chamas foi consumido
Toda a paleta de cores
Em cinzas foi reduzido
O vermelho e amarelo
Trabalhavam em dueto
Reduziam tudo a nada
Pintando tudo em tom de preto
Nessa hora eu percebi
Que ele estava a chorar
Lembrando de todas as árvores
Que um dia pôde pousar
Uma família de capivaras
Que morava logo ali
Vendo tudo se queimando
Precisaram pra água fugir
O fogo engolia tudo
Nada pensava em poupar
Estava mais que faminto
Queria tudo devorar
O sabiá contou mais
Sobre o acontecido
Estava em desespero
Por vê seu tudo perdido
Estava tão infeliz
Pelo que tinha se passado
Seu coração estava partido
Por pouco tinha escapado
Só restam agora lembranças
Do que outrora existiu
A morte da inocência
Pela ganância sucumbiu
O sol perdeu o brilho
O céu escureceu
A lua mudou de cor
A natureza se enfureceu
As consequências desses atos
Aos montes tem aparecido
E todos irão sofrer
Com a ira dos ofendidos
O chão começou tremer
O sol mais quente que o normal
A natureza desregulada
Será este o final?
O gelo derretendo
Nada está como era antes
A água também sente
Com a poluição constante
A terra que tinha palmeiras
Hoje já não tem mais
As aves que gorgeavam
Agora clamam por paz
O sabiá soluçava
Era triste de se vê
Seu mundo estava caindo
Tudo estava a perecer
Naquela situação
Tudo tinha importância
Se tivesse uma folha verde
Poderia ter esperança
O pássaro estava cansado
Sem forças até pra voar
Seu ninho tinha queimado
Onde ele iria morar?
Peguei o pássaro no colo
E senti seu coração
Refleti naquele momento
Com tamanha emoção
Vendo aquele pequeno
Totalmente indefeso
Meu coração pulsou de dor
Tive um grande desejo
Queria mudar tudo
Para isso não mais acontecer
Trazer a floresta de volta
Nenhum animal vê morrer
A mensagem do sabiá
Jamais será esquecida
Lembrarei de suas palavras
E do seu canto de vida